POLEMIZANDO SEM CHEGAR A LIMITES *
Por ANTONIO MIRANDA
“los polos de estas imposibles posibilidades” OCTAVIO PAZ
Quase sempre estou debruçado sobre as coisas que acontecem,
soabre as ideias que suscitam, sobre as questões que se impõem à
minha existência ou consciência.
Quase nunca mergulho no meu próprio ser, indagando minhas
próprias entranhas, desenterrando respostas ao meu comportamento
errático. Como que, indiferente de mim mesmo, que me realizo mais
exteriorizando-me do que ensimesmando-me. Em verdade, prefiro
ler, escrever, pintar, criar do que meditar ou, maios bem diria, penso
fazendo, saindo de mim mesmo, projetando-me em outras ealidades
(com as quais me identifico e me confundo.)
Ler é uma forma de evadir e de reencontrar-se. Em-ser-o-outro, em descobrir as nossas múltiplas afinidade, diversidades.
É exercer o contraditório como dissuasório, convencer-se, comunicar-
se consigo mesmo pela palavra alheia. Estranha e fantástica forma de
comunicação, que parece vir dos outros e resume-se em nossa pro-
pria e solitária existência.
O narcisismo da juventude deu lugar à auto-confiança ou auto-suficiência do adulto. A maturidade vai fazendo ficar cada vez mais
cético — e talvez por isso mesmo, mais verdadeiro — o relaciona-
mento com as pessoas.
Gostar das pessoas mas aprender a não depender delas. Um
tanto de impaciência, de esgotamento, de desencanto (feliz!) com as
coisas e as pessoas, como se elas não fossem imprescindíveis (embo-
ra sempre necessárias) como se antevêssemos e vivenciássemos a
a fatuidade ou perenidade das coisas e das relações humanas, para
compreende-las inteiras e finitas, antes do tempo fluir, inexorável.
Uma espécie de felicidade, a minha. Entusiasmado, contami-nado pela vida, participante, produzindo e polemizando sem chegar a
limites, sabedor prematuro da Circunstancialidade de tudo. Já que
tudo está em estado de presença enganosa, verdadeira por ocasião,
mas superável, perecível, substituível. Talvez, por isso, quase não
para trás. Minhas fantasias projetam-me sempre sobre o imaginário,
o porvir, o inconcebível.
Sinto-me mais seguro diante do passageiro e menos com o
derradeiro, que permanece sem ser definitivo.
*[texto original escrito em 14.10.94]
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